O tratamento do câncer procura a cura e o alívio dos sintomas da doença, entretanto, os medicamentos utilizados durante a terapia oncológica podem provocar eventos adversos, como a síndrome mão-pé. Entenda tudo sobre o assunto!1
Os medicamentos utilizados durante a quimioterapia atuam sobre as células cancerígenas, com intuito de eliminá-las, e, também, sobre as células normais do organismo em razão das diferenças nos processos do metabolismo. Neste contexto, as células da medula óssea, dos folículos pilosos e de revestimento das mucosas possuem alta taxa de proliferação, fazendo com que a quimioterapia atue sobre elas.2
Em razão dessa atividade, um dos eventos adversos relacionados à quimioterapia é o desenvolvimento da síndrome mão-pé.2
Conhecida também como eritrodisestesia palmopalmar, a síndrome mão-pé é uma reação da pele que ocorre com frequência, constituindo um problema clínico do paciente oncológico.2
A manifestação desse evento adverso pode estar associada à dose de quimioterapia e como ela é administrada. Em outras palavras, é provável que o paciente desenvolva a síndrome mão-pé se o mesmo receber doses de drogas quimioterápicas em excesso por um longo período.2,3
O desenvolvimento da síndrome mão-pé pode levar, em alguns casos, à interrupção do tratamento oncológico ou à redução da dose de medicamento utilizado durante a terapia.2
Assim, os sintomas da síndrome mão-pé podem levar à redução da qualidade de vida do paciente, bem como causar um desconforto e limitação das atividades diárias.2
Quais os sintomas da síndrome mão-pé?
Geralmente, os primeiros sinais da síndrome mão-pé começam entre duas a três semanas após o início da quimioterapia, classificados entre leves, moderados ou graves.3,4
Os sintomas da síndrome mão-pé leve ou moderada incluem:
- inchaço;
- vermelhidão semelhante a uma queimadura solar;
- sensação de formigamento ou queimação;
- sensibilidade ao toque;
- rigidez da pele;
- calos grossos e bolhas nas palmas das mãos e solas dos pés.4
Já os sintomas da síndrome mão-pé grave incluem:
- dor forte;
- pele rachada ou descamada;
- bolhas, úlceras ou feridas na pele;
- dificuldade para andar ou usar as mãos.4
Todos os sintomas descritos acima são importantes para o diagnóstico da síndrome mão-pé.
Como diagnosticar a síndrome mão-pé?
Para o diagnóstico, o médico oncologista fará uma avaliação dos sintomas e poderá usar a análise de biópsia para determinar se as alterações das células da pele são características desse evento adverso.3
Além disso, o oncologista deve avaliar os medicamentos propostos na terapia oncológica, pois algumas substâncias possuem maior probabilidade de desenvolvimento da síndrome mão-pé.3
Segundo o Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, o diagnóstico se baseia em uma classificação que analisa a gravidade dos sintomas, podendo variar entre:
- grau 1: os sintomas podem incluir inchaço nas palmas das mãos e plantas dos pés, e alterações de cor (vermelhidão ou escurecimento), mas sem dor.
- grau 2: além dos sintomas de grau 1, o paciente pode ter bolhas, sangramento e descamação da pele, dificultando atividades diárias.
- grau 3: além dos sintomas de grau 2, o paciente pode sentir dor intensa que dificulta as atividades básicas, como vestir-se, tomar banho ou ir ao banheiro.3
Essa mesma classificação será importante para direcionamentos no tratamento dessa condição.3
Como tratar a síndrome mão-pé?
Após a avaliação dos sintomas, a equipe oncológica definirá se existe a necessidade de interromper a quimioterapia, ajustar a dose recebida ou mudar para um tipo diferente de medicamento quimioterápico.3,5
Usualmente, esses direcionamentos podem tornar o tratamento do câncer menos eficaz. Se esse for o caso, ou se os sintomas da síndrome mão-pé forem leves, o médico oncologista pode recomendar estratégias para controlar os eventos adversos.3,5
Além disso, o dermatologista oncológico, integrante da equipe multidisciplinar, pode indicar medicamentos anti-inflamatórios de uso tópico.4
Outras opções podem ser usadas para tratar a síndrome mão-pé, como:
- analgésicos tópicos, usados como creme ou adesivo sobre áreas doloridas nas palmas das mãos e plantas dos pés;
- cremes esfoliantes hidratantes tópicos;
- analgésicos orais para minimizar a dor;
- cremes corticosteroides para reduzir a inflamação;
- bolsas de gelo sob as mãos e pés durante a administração de quimioterapia.4,5
Se você é um paciente oncológico, é importante informar o seu médico sobre qualquer medicamento utilizado durante o tratamento. Do mesmo modo que, qualquer produto tópico deve ser recomendado por um especialista oncológico habilitado em prescrever.4,5
Prevenindo a síndrome mão-pé durante o tratamento oncológico
Geralmente, pacientes com síndrome mão-pé podem controlar os sintomas com mudanças no estilo de vida.3,5
Alguns cuidados incluem:
- usar hidratantes (emolientes) para proteção e hidratação da pele;
- evitar a exposição solar;
- evitar banhos quentes;
- aplicar bolsas de gelo ou compressas frias nos pulsos e tornozelos para reduzir o fluxo sanguíneo na região;
- elevar as mãos e os pés;
- evitar esfregar a pele ao aplicar as loções indicadas pelo dermatologista;
- vestir meias e sapatos leves e largos, o chinelo é uma ótima opção.3,5
Os pacientes oncológicos devem evitar, também, atividades que causem fricção nas palmas das mãos ou plantas dos pés.3
Em resumo, a síndrome mão-pé é uma condição que pode afetar pacientes oncológicos durante o tratamento, causando desconforto e dor. No entanto, é importante lembrar que existem opções de tratamento e maneiras de aliviar os sintomas.1-5
Pacientes oncológicos enfrentam grandes desafios e, com a ajuda e apoio adequados, podem superar essas dificuldades e continuar avançando em direção à recuperação. Se você está enfrentando a síndrome mão-pé, lembre-se de buscar o apoio da sua equipe médica e de seus familiares e amigos.
Revisora Científica: Dra. Paula Tavares Colpas – CRM: 129556-SP.
Referências
- Oncoguia. Síndrome Mão-Pé. Disponível em: https://www.oncoguia.org.br/conteudo/sindrome-maope/1340/109/#:~:text=A%20s%C3%ADndrome%20m%C3%A3o%2Dp%C3%A9%20%C3%A9,%C3%A1reas%2C%20como%20joelhos%20e%20cotovelos. Acesso em: 08 ago. 2023.
- DOS SANTOS COSTA, Jéssica et al. Síndrome mão-pé induzida por quimioterapia: abordagem clínica e epidemiológica de pacientes com câncer. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 65, n. 2, 2019. Disponível em: https://rbc.inca.gov.br/index.php/revista/article/view/285. Acesso em: 08 ago. 2023.
- Cleveland Clinic. Hand-Foot Syndrome. Disponível em: https://my.clevelandclinic.org/health/diseases/24105-hand-foot-syndrome. Acesso em: 08 ago. 2023.
- ASCO. Hand-Foot Syndrome or Palmar-Plantar Erythrodysesthesia. Disponível em: https://www.cancer.net/coping-with-cancer/physical-emotional-and-social-effects-cancer/managing-physical-side-effects/hand-foot-syndrome-or-palmar-plantar-erythrodysesthesia. Acesso em: 08 ago. 2023.
- GRESSETT, Sarah M.; STANFORD, Brad L.; HARDWICKE, Fred. Management of hand-foot syndrome induced by capecitabine. Journal of Oncology Pharmacy Practice, v. 12, n. 3, p. 131-141, 2006. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7232019/. Acesso em: 08 ago. 2023.